As coisas estão como estão por causa de nós humanos! O poder
é o grande corruptor, seja ele qual for, o ego, a ideia que temos de nós
mesmos, foi, é e será sempre corrompida pelo poder.
Quanto maior o poder maior a corrupção!
E é essa a nossa natureza! Em primeiro o Ego seguida do
poder e da corrupção provocada por ele!
Mais nenhum ser vivo na terra chegou ao nível de dominância
sobre o meio que o rodeia como nós, nem à beira do abismo!
Em todas as espécies superiores existem hierarquias de poder
mas todas vivem em consonância com leis e regras naturais, mais alimento mais
elementos e menos alimento menos elementos, nós não! Nós há muito que
produzimos o nosso alimento em quantidades supérfluas, e comemo-lo em quantidades
supérfluas! Cedo o bem do grupo deixou de parecer significar o bem do individuo
e é aqui que começa a corrupção, pelo poder, do ego. O favorecimento de Eu em
detrimento de outro só é possível pela posição de poder que Eu detém sobre
outro, o poder que um membro tem sobre a família, o poder que um patrão tem
sobre o empregado, o poder que um governo tem sobre um povo, o poder que uma
nação tem sobre outra ou o poder que a humanidade pensa ter sobre o mundo que a
rodeia, e quanto mais distante a relação de poder entre quem pode e quem sobre
o poder é exercido menos evidente é o beneficio do todo sobre o individuo e
maior é a corrupção que o poder exerce sobre o Ego.
Numa alcateia o casal alfa alimenta-se primeiro e dos
melhores pedaços da presa mas nunca o resto da alcateia fica sem comer pois
isso determinaria o enfraquecimento dos menos poderosos dentro da mesma e a
incapacidade de desempenhar eficazmente o seu papel na obtenção de alimentos
condenando o futuro da alcateia, seja pela morte dos mais fracos o que
diminuiria o sucesso na obtenção de alimentos do grupo e à morte pela fome de
todos os membros seja pelo eventual surgimento de conflitos sociais dentro da
alcateia e a destruturação da mesma.
Nos humanos, e em qualquer dos exemplos acima expostos o
resultado final e processo para o atingir é idêntico.
Quanto maior for o distanciamento entre quem detém o poder e
o resto do grupo maior é a facilidade com que o poder exerce a sua corrupção
sobre quem o detém levando ao beneficio próprio em detrimento do resto do grupo
devido à aparente menor evidencia da relação entre o bem-estar do grupo e o bem-estar
do eu com as consequências em tudo idênticas à alcateia, seja pela disfunção
familiar, seja pela greve e queda da produtividade, seja pela revolução de um
povo, seja pela guerra em que todos perdem ou seja pela condenação da espécie à
entropia pela destruição do seu próprio habitat.
É no entanto uma característica única da espécie humana, o
Ego, foi ele que permitiu chegar tão longe, primeiro pela atividade da
agricultura e apascentamento de gado por forma a não depender do sucesso da
atividade de caçador recolector dando origem a um excedente alimentar e logo
mais alimentos mais elementos, a consciência do Eu e da importância do grupo
para a sobrevivência do Eu deu inicio à revolução agrícola, com esta
necessidade básica suprida deixou de ser tão evidente a interdependência vital
entre o detentor do poder e os outros e agudizaram-se os problemas dentro do
grupo, desde então a corrupção que o poder exerce sobre quem o detém nunca mais
adormeceu e o beneficio individual, o beneficio do Eu, nunca mais parou, o ser
humano fora corrompido para sempre, nunca mais faria esta espécie parte do todo
natural, a exploração dos mais fracos pelos mais fortes, as guerras que surgem
sempre que as fronteiras de uma colónia humana se aproxima de outra, a má
distribuição dos recursos alimentares pelo globo levando à abastança de uns e à
fome de outros, a riqueza do circulo de poder e a desgraça, fome e miséria que
grassa a seus pés.
Mais alimentos mais elementos, o desmesurado crescimento da
espécie humana e consequente destruição dos recursos que lhe servem de habitat.
Como espécie chegámos longe, muito longe, e quem sabe, longe
demais, aparentemente esta caminhada a passos largos parece aproximar-se
inexoravelmente do fim do caminho, à beira do abismo.
Pode parecer aterrorizante, pode até parecer desmoralizante,
mas é assim que somos, todos e qualquer um de nós quando expostos à força
corruptiva do poder só com grande autocontrolo lhe resistimos, e quanto maior o
poder, maior é o poder de corromper tal como o é quanto maior for a distancia
entre quem o detém e sobre quem ele é exercido.
O poder que nos trouxe aqui é o mesmo que nos tirou das
cavernas.
Somos assim e ao longo dos tempos sempre demos a volta, e
quando o bem do grupo é de tal forma posto em causa que põe em causa o bem do
individuo sempre nos elevámos ao nosso melhor, somos uma espécie abençoada e
castigada, para o bem e para o mal, somos capazes das maiores maravilhas e dos
ações mais aterrorizantes.
É assim que somos e é-nos fácil criticar sem calçarmos os
sapatos, mas negarmos que assim somos é negar a nós mesmos e tentar separar os
dois lados indivisíveis da natureza humana.
É até possível que a beira do abismo esteja longe, mesmo que
esteja perto nada nos obriga a dar uma volta de 180º para mais uma vez nos
elevarmos, basta virar a 90º e caminhar na beira, se virarmos a 91º já nos
afastaremos desse abismo, lentamente mas certamente.
Podemos chorar e lamentar individualmente mas não muda o que
somos coletivamente e não impede o sol de nascer nem trás alegria a nós e aos
nossos, podemos apontar culpas mas não muda as nossas, mas podemos olhar para o
espelho, compreender que assim somos coletiva e individualmente, que um sorriso
é mais bonito que uma lamuria, que um elogio é mais produtivo que um insulto,
que uma casa se constrói pelos alicerces e não pela chaminé, que o pouco de
cada um é o muito de todos e que todas as mudanças tem de ter uma origem.
Por isso!
Façam o favor de ser felizes!